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CASA RONDONIENSE
Foi fomentado com recursos da Lei Aldir Blanc nº 14.017/2020, através do
Edital nº 33/2021/SEJUCEL-CODEC - 2° EDIÇÃO ALEJANDRO BEDOTTi
PRÊMIO DE PESQUISAS ARTÍSTICAS E EXPRESSÕES CULTURAIS,
Eixo IV, Categoria L - Governo do Estado de Rondônia/Brasil.
Ideia Original, pesquisa e Texto: Jussara Botter Santos
Fotografia e web designer: Olavo Militão dos Santos Junior
Uma casa é muito mais que uma estrutura física, um lugar de descanso e de abrigo das intempéries, morar é um conceito, um modo de enxergar a realidade e de conduzirmos nossa existência. As casas são reflexos das pessoas, da comunidade
a qual está inserida, das condições socioeconômicas, do contexto histórico e da origem dos seus moradores. As condições geoclimáticas são determinantes na arquitetura das moradias, além dos hábitos, dos costumes, das preferências de lazer dos moradores entre outras variantes. As casas são ainda expressões de criatividade e em alguns casos, expressões artísticas de seus idealizadores.
Essa pesquisa se propõe compreender a relação dos moradores de Rolim de Moura com suas casas e para isso utilizamos um recorte de três residências peculiares.
Casa Gaia
Avenida Campo Grande, 5682 - Planalto - Rolim de Moura - Rondônia
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A Deusa Gaia forneceu à esta família os materiais necessários para a construção desta moradia e como gratidão à Patchamama, Helionice e Clevocir dedicam a vida a um espaço ecológico que promove educação ambiental, inclusão social e ainda serve de abrigo de animais silvestres socorridos e sem condições de voltar à natureza, este espaço fica no quintal desta moradia peculiar, desta CASA RONDONIENSE.
O TERRENO
O terreno no passado foi um espaço destinado a ser uma reserva ambiental dentro do município de Rolim de Moura, no entanto, com o crescimento da cidade, as gestões municipais que se sucederam autorizaram o loteamento da área, então a floresta original foi derrubada em sua totalidade, mas quando a mata foi ao chão, percebeu-se uma configuração geológica peculiar, que tornava o local muito acidentado devido a grandes formações rochosas, por esse motivo, as pessoas então foram desistindo de construir suas moradias ali, abandonando seus terrenos cheios de mato.
O espaço passou a ser alvo de depósito de descarte de obras e lixo, foi quando em 1993, Helionice e Clevocir chegaram no terreno que hoje existe a Casa Gaia.
"Somos latifundiários urbanos" diz Helionice ao explicar que o espaço compreende 6 lotes urbanos conjugados.
A CASA
Maracatiara, Angelin, peróba e castanheira foram as matérias primas para a construção da casa, a madeira foi extraída e beneficiada pelo próprio Clevocir, que alugou uma serraria e durante a madrugada cortava a madeira que concretizaria o sonho da família. Duas pedras gigantescas, que já estavam no local, serviram de alicerce, e com esse fato Helionice brinca que " precisa de um terremoto de alta magnitude para abalar as estruturas dessa casa..".
A mão de obra foi um mutirão de família, um cunhado amputado de uma perna, outro com hérnia de disco, foram longas madrugadas que o casal trabalhou juntos para assentar o assoalho, que com muito capricho, está recheado de carvão, para evitar a umidade.
O gosto pelas cores e pela facilidade em decorar as paredes foi o que motivou Helionice a querer uma casa de madeira, ela mesma pinta a casa com cores diferentes a cada ano.
A casa ficou pronta na virada do Milênio - 2001 e nestas duas décadas o casal reflorestou o quintal que hoje é quase uma floresta. Os 17 terrenos vizinhos também foram recuperados por eles e tornou-se uma Associação de educação ambiental e biblioteca comunitária chamada Espaço Gaia Amiga.
A DECORAÇÃO
Na sala, uma estante de mogno de 34 anos abriga um rádio antigo e objetos de decoração - presentes que Helionice ganhou de alunos ao longo de uma vida de magistério.
Nas paredes retratos de família, artesanato feito por Helionice, um anjo em madeira entalhado por Clevocir, e uma mesa de jantar também feita por ele.
As cores, as chitas e adornos conferem personalidade à casa que segue uma linha despojada, refletindo o modo de vida dos seus donos.
OS MORADORES HUMANOS
A família, que antes da casa ficar pronta era composta por Helionice, Clevocir e Sheila cresceu, adotaram um casal de irmãos Nathyelle e Natiel. Sheila hoje vive na capital do estado, onde faz parte de uma ONG ambiental e Ayla, neta do casal é a nova moradora desta casa rondoniense.
O Amor à natureza e o respeito aos animais é um legado passado de uma geração para a outra na Casa Gaia.
OS MORADORES NÃO HUMANOS
Devido o amplo espaço verde, há alguns anos o casal foi procurado por um médico veterinário da cidade para que pudessem abrigar animais silvestres vitimas de acidentes e/ou violência, que são por ele socorridos. Alguns destes animais conseguem ser reintegrados à natureza, outros não, e estes passam a viver definitivamente na Casa Gaia.
Entre estes animais estão: Um representante dos quelônios - o jabuti - "Michelangelo" que é considerado o patriarca dessas vítimas da relação abusiva dos humanos sobre os animais. Michelangelo foi socorrido após ter sido atropelado por um veículo e ter parte de seu casco fraturado em vários lugares, o que obrigou o médico veterinário fazer um
” implante de casco”.
As araras "Dóri", "André" e "Lora" foram trazidas após terem sido levadas até a clinica veterinária por alguém que as encontraram em situação de abandono e doentes. O macaco "Tadeu", um filhote de macaco prego foi encontrado bem filhote e indefeso numa cidade próxima à Rolim de Moura.
Há também os pets agregados, como a cachorra "Chocolate" e o gato "Meia lua" que foram abandonados pelos seus maus tutores nas proximidades da Casa Gaia e claro, foram bem recebidos e cuidados e vivem harmoniosamente com os demais animais e humanos.
Uma Casa Rondoniense edificada com amor, paredes coloridas cheias de histórias de vidas, decorada de forma original, livre de padrões pré estabelecidos, habitada por seres humanos sensíveis que respeitam a natureza, os animais e que acolhem a diversidade étnica e de gênero sempre com " aquele abraço"
Casa do Rio
Avenida Florianópolis, 3958 - Centenário - Rolim de Moura
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O som das águas da corredeira é um convite ao cochilo, foi assim que encontramos o Sr. João, cochilando na varanda da sua casa. Um casa na beira do Rio "Anta Atirada". Uma casa peculiar pela sua simplicidade e pelo capricho do seu dono para com ela.
O MORADOR
"Seu João Cearense", é assim que o único morador dessa casa é conhecido. Há mais de 30 anos, seu João migrou para Rondônia, sendo trazido por outro cearense que financiou sua vinda, trabalhou muitos meses na fundiária de uma propriedade para pagar a sua passagem e logo percebeu que deveria vir para a cidade. A vida lhe conduziu para essa moradia simples que fica à beira do Rio Anta Atirada. Um cachorro simpático, meia dúzia de passarinhos, muitas plantas e uma hospitalidade que se encontra em poucos lugares.
A CASA
A casa de madeira é muito zelada, piso bem encerado, panelas e tampas areadas brilham nas paredes, decoração peculiar feita com "achados" e presentes que ele ganha e que também redistribui facilmente. Um pôster do Raul Seixas denuncia o gosto musical do morador. A pomba do Divino Espirito Santo revela sua fé católica.
Pelo menos uma vez ao ano as águas do rio invadem sua casa, pacientemente Sr. João aguarda o recuo das águas e limpa com capricho sua moradia e tudo volta a ser como antes.
Os passarinhos garantem o som ambiente, "Seu João" coloca um pedaço de papelão entre uma gaiola e outra que, segundo ele, é para os passarinhos cantarem...
O RIO
O Rio "Anta Atirada" corta a cidade de Rolim de Moura e já foi fonte de muita fartura em peixes, segundo "Seu João", atualmente, os peixes não servem para comer pois estão contaminados pelos dejetos que são despejados no rio. Quanto a origem do nome "Anta Atirada" ele nos conta que em meados dos anos 70, os servidores da antiga SUCAN ( atual Fundação Nacional de Saúde) que realizavam o serviço de prevenção do mosquito da malária, acampavam às margens desse rio e, em uma noite, apareceu uma anta perto da barraca deles, então um dos servidores atirou neste animal, mas o tiro não foi letal e anta saiu correndo atirada, desde então, todas as vezes que eles se referiam àquele rio eles faziam menção a este episódio e diziam " lá no rio da anta atirada", e o nome permaneceu depois que a cidade cresceu.
Casa Esperança
Rua Esperantina, 4478, Centenário - Rolim de Moura
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Quando a Família "Lira" migrou do Paraná para Rolim de Moura em 1981, ganhou da Administração Municipal um terreno amplo para montar uma serraria. A casa ficava no pátio desta industria, e era inteiramente construída de mogno, com a paralização das atividades da Serraria, o espaço foi inteiramente ressignificado pela Matriarca da família Srª Marlene Lira.
O QUINTAL
Sob os olhares atentos de D. Marlene e Sr. Décio, o imenso jardim é bem cuidado e conta com centenas de espécies de plantas, além disso, o espaço ainda abriga uma plantação de açaí e outra de cacau, tudo isso no "quintal" dessa residência. Todo o espaço verde gera a demanda diária de três funcionários para a manutenção.
AS FESTAS
As palmeiras imponentes chamam a atenção de quem passa pela rua, elas dão as boas vindas a quem chega a esta moradia que tradicionalmente já foi palco de inúmeras reuniões sociais, isso porque a família tem personalidade festiva, e sempre foi engajada em causas sociais, políticas e religiosas. Fechar os portões dessa residência no período da Pandemia foi uma decisão difícil de ser tomada, porém necessária. Ainda com os devidos cuidados, aos poucos a família está voltando a recepcionar amigos e convidados.
A DECORAÇÃO
Os adereços decorativos dão pistas de que a família viveu o período "áureo" da migração de Rolim de Moura, muitos elementos de madeira de lei compõem o mobiliário, a influência da atividade agropecuária também está presente, assim como a fé católica através de imagens e crucifixos. Porém o elemento surpresa desta decoração são as fotos e objetos que fazem referência ao "Rei do Rock" Elvis Presley, de quem D. Marlene Lira é grande fã.
Uma casa rondoniense pensada para o bem estar da família e amigos, uma casa quase "pública" devido as intensas atividades sociais de seus proprietários. Uma casa onde todas as pessoas de bem são acolhidas com gentileza e carinho. Uma onde até a tristeza "pula" de alegria.
Agradecimentos:
Helionice de Moura
Priscila Hirooka
João Cândido da silva
Marlene Loures Lira
Décio Lira
Cleusa Rosa Gomes dos Santos
Olavo Militão dos Santos Junior
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